Professores: o CPERS é um produto da gestão petista do Estado Burguês!



Assim mesmo, sem rodeios, é como devemos definir não apenas a atuação do sindicato dos professores do estado do Rio Grande do Sul, mas dos próprios professores.

Sem ganhos reais há pelo menos mais de uma década, o funcionalismo público gaúcho num geral subordina todas as suas lutas as direções cutistas. Como parte do aparato burguês que são, não conseguem se desprender do seu pensamento.

No início do ano de 2023, a “categoria” dos professores precisou lidar com a confusão de aprovar alunos que nunca haviam aparecido nas escolas para aumentar os índices do governo estadual. Mais uma vez, agora sob o governo Lula-Leite, vai-se abaixo a ideia tão entranhada na pequena-burguesia do funcionalismo público de “votar corretamente nas eleições que vier”. A diferença que faria um Onyx, um Eduardo Leite ou algum poste qualquer do PT na gestão do Estado teria diferença mínima. Mas não é assim que o sindicato e os sindicalizados principais desenvolvem o pensamento nas bases, favoráveis a sua própria direção, evidentemente.

Concomitante a isto, Helenir (diretora do sindicato) foi conversar com Leite, mais uma vez, para sair de mãos vazias, pedindo o reajuste que há anos é pedido como mínimo do mínimo. Desde que sentou para selar com o governador a derrota da greve de 2019-2020, este sente-se extremamente confortável e elogia o sindicato, onde comenta em entrevistas que está vendo mais convergências do que divergências. O aparato estatal governista possui um aliado bastante convergente.

De fato, o que os sindicatos cutistas são (sem tratar o CPERS como exceção) é um produto da gestão petista do Estado Burguês: ilusões eleitorais, paternalismo, assistencialismo, reprovação das pautas mais importantes, rebaixamento programático e um longo etc. Mas principalmente: a perseguição e o isolamento dos discursos revolucionários.

Como combater o petismo sendo parte dele?

Muito é falado pelas oposições, desde as independentes que tentam reconstruir pelas bases quanto por estruturas mais burocráticas, como o PSTU e o PSOL, afirmando de que é preciso radicalizar e mobilizar desde baixo. Importante, de fato. Isso se tivermos memória curta e não esquecermos o mais importante: nos momentos mais sensíveis (greves ou até mesmo eleições burguesas) essas estruturas se colocam a disposição do.. petismo. Isso mesmo!

Há elementos sindicais que (pasmem!) defendem que as oposições não possuem fôlego para combater o reformismo/petismo nas bases, mas votaram em Lula contra Bolsonaro, em Leite contra Onyx. Não apenas isto, mas teorizaram seu engodo de acordo com justificativas aparentemente profundas. Um verdadeiro lamaçal que demonstram que fazem parte desta mesma estrutura carcomida do CPERS, mas supostamente como oposição.

Por outro lado, também podemos entender que a situação de desânimo [para a luta] dos professores e a consciência rebaixada num contexto geral, advém de um longo processo de lutas, quase extenuantes, que terminaram em massivas derrotas.

Não adianta explicar a passividade em um meio onde não existe passividade, quiçá as maiores lutas sindicais deste país tenham ocorrido justamente com os professores, incluindo os do Rio Grande do Sul. Neste sentido, não há teoria jungiana, freudiana ou determinista que explique o que ocorreu e está ocorrendo.

Em primeiro lugar, os professores não fazem parte do principal processo produtivo do capitalismo, não são operários, ainda que a sua condição seja cada vez mais a de proletários. Um professor produz horas-aula, não é um bem material que numa greve possa parar a principal engrenagem do sistema capitalista. Neste sentido, greves são pouco ameaçadoras para o poder vigente, a não ser que se liguem a estruturas maiores, como uma greve de petroleiros, por exemplo. No entanto, na realidade brasileira da atualidade, qualquer setor da classe operária (artesãos, “pedreiros”, petroleiros ou seja o que for) nada tem a ver com os professores. Vivem praticamente em mundos diferentes, e os sindicatos fazem questão de que assim permaneça.

Em segundo, aqueles e aquelas que são oposição ao lulismo no sindicato, mas não o são em outras esferas da luta de classes nada podem esbravejar contra ele, são parte dele. Não podem se sentir vanguarda, porque estão no campo da retaguarda. Não constroem, mas ajudam a implodir.

A culpa da SEDUC, a reprodução categórica das CRE’s, a desorganização entre direção central e núcleos do sindicado, bem como a crise internacional do capitalismo atrelado ao lodo reformista em que se enfiou o proletariado desde as suas derrotas históricas no século passado. Nada disso deve ser ignorado, pois esta sopa de fracassos paira por cima da cabeça dos indivíduos existentes. Sequer a vergonha que foi o governo de Tarso Genro (2011-2015) no setor da educação acabou sendo o suficiente para abrir os olhos do petismo, que hoje está mais fortalecido do que desgastado.

Nada mudará se tudo continuar igual.

Para que tudo mude, é preciso minimamente um balanço correto do que ocorreu nos últimos anos, desde a redemocratização do país e as lutas que vieram a partir dali. Não podemos acreditar que virá mudança se repetirmos as mesmas práticas, se não entendermos que hoje o sindicato não é visto pelos trabalhadores como um instrumento de luta, mas como um instrumento de trapaça [o que é de fato].

O problema é que para lutar é preciso ver a vitória como um horizonte palpável, e para isto é preciso uma emancipação intelectual para além da luta concreta. Os professores que hoje estão se formando, estão se formando sob a égide do lulismo (ou no pior dos casos, do bolsonarismo) nas universidades em que estão. Ou seja, não de uma tradição revolucionária ou sindicalista independente, mas de subordinação.

Grande parte da vanguarda que hoje é a parte mais combativa do sindicato teve medo de abrir aos seus companheiros a realidade concreta do que se abria no horizonte*: um governo burguês, tanto a nível federal com Lula quanto a estadual com Leite, que aplicaria os mesmos métodos dos últimos 20 anos e que por sua vez estão destruindo a educação pública à sombra do que ela já foi. Este setor se ateve em abstracionismos como o tal do “fascismo”, a “defesa da democracia” e “ao voto útil”. Não há fascismo nas escolas, nem nos sindicatos; há apenas a direção burocrática subordinada a governos, aos SEUS governos.

Que tenhamos força para não sucumbir à perseguição e à calúnia daqueles que defendem os que nos oprimem dia a dia.

*Ou pior do que isto, realmente não enxergou a realidade. O que é tão grave quanto.

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