Panfleto distribuído em Porto Alegre (16/11/2022)

Abaixo compartilhamos o texto presente no panfleto que distribuímos em Porto Alegre, no ato independente contra os protestos bolsonaristas:


TODO APOIO ÀS MANIFESTAÇÕES INDEPENDENTES!

Nas últimas semanas, a crítica ao “voto crítico” foi atacada como sectarismo e ultraesquerdismo. Entendida como brecha para a extrema-direita seguir no poder do estado burguês, passadas as eleições, o próximo encontro com a militância petista mais aguerrida é na rua. No entanto, qualquer resistência ou movimento independente da classe trabalhadora não é bem-vista por um novo governo Lula - tal como era antigamente.

A constatação da vida material coloca em xeque qualquer tese de que os quatro anos de bolsonarismo melhoraram a vida dos trabalhadores; no entanto, isso não impede que seus defensores saiam às ruas de verde e amarelo para defendê-lo. A constatação do programa de governo e da história recente do Brasil, demonstram que o governo Lula não será um paraíso capitalista e muito menos um governo que conseguirá pacificar a luta de classes que segue seu curso; no entanto, isso não impede que a grande maioria da militância petista (ou psolista) mantenha altas expectativas nos anos que virão. Ou mantenham as mais baixas, isto é, mínimas, de que o projeto de Lula-Alckmin seja capaz de varrer o bolsonarismo para baixo do tapete.

Na cúpula do poder, é diferente. O vice de fantoche, agora senador Mourão, convidou Alckmin para o Palácio do Jaburu, sendo os dois vices, até aqui, aparentemente os líderes reais da transição de governos. Até aqui, quem é a herança política de Lula? A sua idade avançada, ainda que bastante enérgico e atuante, não permitirá a tentativa de um segundo mandato, ao que tudo indica. Ao que parece, tanto Alckmin quanto Eduardo Leite – muito mais do que Boulos e Haddad, aparentam nascer como candidatos fortes para 2026, não que necessariamente sob a “herança lulista”. Até aqui, também, muito mais do que Lula irá querer fazer nos primeiros meses e anos, é importante observar o que o grande capital vai querer que ele faça. Reforma administrativa? Outra reforma da previdência? Volte a aprofundar o investimento estatal para atolar a classe trabalhadora em dívidas?

Sobre a esquerda, no entanto, nenhuma dessas questões é a mais interrogadora do que a inicial, como que um rechaço ao apoio aberto ou “crítico” a este governo pode ser entendido como ultraesquerdismo?

Em primeiro lugar, precisamos entender que cabe aos quadros políticos dos irmãos menores do PT (PSOL, UP, PCB, talvez salve PCO e PSTU), não ministérios governamentais como possa parecer, mas editoras, publicações, projetos financeiros, reitorias de universidades etc. Como nos ensinava Marx, em seu novo materialismo contra o materialismo já antigo de Feuerbach, é a de que “a vida social é essencialmente prática” (XVIII Tese). Isto é, o pensamento dessas organizações está aqui pautado por aquilo que vão conquistar, no dito popular, “em que prato vão comer”.

Em segundo lugar, a possível ameaça fascista de Bolsonaro. Assim que Bolsonaro foi derrotado, na manhã do dia seguinte, seus apoiadores mais fanáticos, geralmente elementos empresariais dos mais variados tipos, ainda que não fosse possível observar uma grande burguesia ali presente (o que daria outro caráter ao movimento), a sua base foi completamente sustentada pela autoridade e coerção econômica. Isso porque foram inúmeros os vídeos de caminhoneiros dizendo que estavam ali sem saber o motivo, ou apenas trancados. Lideranças do movimento que parou o Brasil em 2018, também vieram a público dizer que não estavam encabeçando essas paralisações. A pequena-burguesia (a alta classe-média), pelo contrário, está presente em peso nas manifestações “patrióticas” e seguem afrontando o TSE com seus delírios ditatoriais.

O curioso foi notar que estes apoiadores ferrenhos de Bolsonaro se utilizaram de métodos legítimos dos explorados, isto é, trancar ruas, queimar pneus, parar trabalhadores, entre outras coisas. Tudo isso no entanto, orquestrado contra os interesses de quaisquer trabalhadores. Eis a contradição prática do movimento que apenas demonstra, para os marxistas, como é preciso fortalecer uma intelectualidade revolucionária no Brasil disposta a não se isolar e aprender/educar pacientemente com as massas e para as massas, semelhante ao processo que ocorreu na Alemanha, que nos delegou Marx e Engels, e na Rússia, com Lenin e Trotsky que culminaram com o processo revolucionário pela primeira vez vitorioso na história do socialismo.

Essas manifestações bolsonaristas, pedindo todo o esgoto da política nacional, despertado pelos mais obscuros medos da pequena-burguesia e das classes mais altas, carrega setores do proletariado que se veem identificados com frases aparentemente inócuas, mas que mantém uma relação profunda com a sua vida material e a propriedade privada dos meios de produção, tais como "Deus, Pátria e Família". É preciso arrancar o proletariado dessa baixeza, dessa vilania, de todo esse marasmo de consciência. Dos quais, não os militantes revolucionários, poucos e desacreditados, mas as décadas de governo PT foram responsáveis. Longe da paranoia das guerras híbridas, a guerra oculta que se fez presente nos governos petistas foi a da luta de classes, negada por estes. Neste sentido, pouco importa se hoje o proletariado é mais ou menos precarizado que no século anterior; se o Brasil é uma semi-colônia exportadora de matérias primas e perde a sua classe operária todos os dias para o desemprego. Nada justifica a intensa despolitização do que até aqui foi o motor da história, a relação capital-trabalho/classe dominante-classe explorada. O que importa, de verdade, é que hoje qualquer programa socialista está distante das massas. E não se pode dizer “bem, ao menos tentamos”. Não, porque é uma mentira. Hoje o proletariado brasileiro está sem capacidade de reação sequer para defender a democracia burguesa, imagine para ir além dela. Falta o partido do proletariado, e o que temos hoje não passam de pequenas brincadeiras de amigos, aventuras sindicais e seitas que se levam a sério demais. Não é à toa que estamos no buraco em que estamos.

Saudamos estes atos independentes, como o que ocorre hoje em Porto Alegre (16.11) que buscam garantir a posse de Lula e atirar para longe dúvidas sobre o sistema eleitoral - que diga-se de passagem, é o mais bem acabado serviço "público" que a burguesia orquestra neste país. No entanto, Lula é nosso inimigo tanto quanto Bolsonaro. A sua aparência proletária não engana a sua essência burguesa, viajando em jatos de empresários corruptos e se enlameando em acordos nada inocentes com exploradores do trabalho alheio. Combateremos o bolsonarismo sem vias de fortalecer o lulismo.

Importante reforçar que o processo eleitoral é corrupto sim, mas não no sentido que defendem os bolsonaristas, que inclusive levaram gordas fatias do Fundão Eleitoral (que possivelmente agora ajuda a financiar os atos contra as próprias instituições que os abasteceram financeiramente); mas no sentido de que corta o tempo de tv de projetos independentes, que fortalece grandes partidos da burguesia contra pequenos partidos, que retira gordas fatias do orçamento estrutural para propagandas mentirosas, que passa a mão por cima de injustiças e que opera sobre a vigilância de leis e estatutos que fortalecem a classe dominante. O TSE, por sua vez, é somente mais uma dessas instituições que faliram no seu papel de conter um inimigo voraz da classe trabalhadora que ajudou a criar, o bolsonarismo.

É preciso, nesta conjuntura, tirar as bases petistas da paralisia, explicar aos demais trabalhadores os riscos que estamos correndo e criar o partido revolucionário do proletariado – que não irá surgir da mera vontade de intelectuais acadêmicos, mas das lutas mais sentidas da classe trabalhadora. Por isto, levantamos:


- PELA REVOGAÇÃO DE TODAS AS REFORMAS QUE TIRARAM DIREITOS DOS TRABALHADORES!

- PELA AUTODEFESA DOS TRABALHADORES CONTRA QUALQUER GOLPE MILITAR!

- NENHUM APOIO A LULA OU AO SEU GOVERNO BURGUÊS!

- PELA CONSTRUÇÃO DO PARTIDO REVOLUCIONÁRIO DOS TRABALHADORES.



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