Segundo turno 2022: a facada ou a pedrada?
“Um bom jogador de xadrez está sinceramente convencido de que sua derrota decorre de um erro seu e então procura esse erro no início do jogo, mas esquece que a cada etapa, ao longo de toda partida, houve erros semelhantes e que nenhum dos seus lances foi perfeito. O erro ao qual o jogador dirige sua atenção só lhe parece mais saliente porque o adversário tirou proveito dele. Bem mais complexo que isso é o jogo da guerra, que se passa em condições de tempo determinadas e onde não há uma vontade única que governa mecanismos inanimados, mas, ao contrário, tudo decorre de um conflito incalculável de vontades distintas.” — L. Tolstói, Guerra e Paz.
O fascismo é
um caminho que se apresenta diante de uma crise, uma face reacionária, extrema,
organizada militarmente fora do campo legal, autoritária, ditatorial e
conservadora. É um movimento de massas – pasmem! – pois aprende a movimentar as
massas sem nenhuma intenção de cumprir algo em benefício delas. Tivemos
experiências históricas, bem nítidas, contidas nos exemplos de Mussolini
(Itália) e Hitler (Alemanha). Evidentemente, é algo que beira a necessidade de
uma força opositora natural dos processos políticos para que haja um equilíbrio
de forças. Como marxistas, precisamos partir da realidade para analisar e obter
conclusões coerentes.
A figura de
Bolsonaro (que atualmente encontrou o partido de aluguel chamado PL), surgiu em
um momento em que a necessidade de um antagonismo em relação a força política mais
forte entre os trabalhadores e compreendido como esquerda (PT), foi pouco a pouco construída. Visto que sua
figura principal, Lula, “representante” das massas, foi desacreditado e preso,
saindo temporariamente do campo eleitoral, convenientemente, criando espaço
para a experiência da burguesia com outro governador conciliador de classes,
mais reacionário, mais ainda atolado no campo da moral burguesa (“verde e amarelo”, “pátria”, “família”)
e que mais se ajustasse a política internacional – Trump (EUA). Observemos
como se dá a democracia burguesa, que tira e dá quando e o que quer ao
proletariado, toma todas as decisões e traz todas as possibilidades como “escolha”.
Vejamos que antes de Bolsonaro entrar para o PSL (partido da sua candidatura em
2018), suas posições eram mais nacionalistas do que atualmente, como demonstrou na entrevista com
Jô Soares, no qual disse que “(Sugeri) Fuzilamento (de Fernando Henrique
Cardoso, risos). É uma barbaridade privatizar a Vale do Rio Doce, como ele fez
privatizar as nossas telecomunicações, entregar as nossas reservas petrolíferas
para o capital externa (...)”, atualmente, na sua gestão, vendeu 63 ativos da
estatal Petrobras, aproximando a privatização. Casos de escândalos sobre seu
governo, como o de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, que dificultou a
fiscalização ambiental e facilitou a extração ilegal de madeira, entre
outros, apenas mostram mais e mais uma vez sua aderência aos interesses da
classe dominante.
A ideia equivocada de que é necessário se passar por um
governo Lula – por ser mais democrático? – como forma de organizar os
trabalhadores com mais “tranquilidade”, além de ser etapista, é uma ilusão de
que Lula e seu governo tenham objetivos e táticas muito diferenciadas do
governo Bolsonaro. Muitas pessoas se chocaram com a aliança Lula-Alckmin, mas
desconhecemos a razão, já que desde o seu primeiro mandato, 2002, aderindo o
vice José Alencar (PL) já era demonstrativo do lado que ocupa. Eis a questão,
em sua gestão diminuiu a dívida sobre o produto interno bruto, mas aumentou a
dívida interna; abaixou a inflação, mas alargou o crescimento dependente da
exportação de commodities agrícolas que, por sua vez, travou o crescimento e
beneficiou o latifúndio. O que podemos observar? Parafraseando o filme “O Sexto
Sentido”: Eu vejo contradições – com que frequência? – o tempo todo. Por quê?
Bem, elas são inerentes ao sistema capitalista. O índice de insegurança
alimentar é de 125,2 milhões, correspondente a 58,7% da nossa população, os programas
como: Fome zero (FHC); Bolsa Família (Lula) ou Auxílio Brasil (Bolsonaro), nada
mais são que políticas usadas de palanque de propaganda e contenção de
movimentos, migalhas dadas ao proletário na tentativa de fingir um reparo
social que a própria luta de classes demonstra insustentável para uma vida
digna.
Dito isto, chegamos ao questionamento primordial deste texto.
Um terceiro
governo Lula seria melhor para a organização dos trabalhadores?
Quando está
em debate a questão de um “novo” governo Lula, a principal reflexão só pode ser
a de “melhor para qual classe?”. Para a classe burguesa, no poder em
praticamente todos os países do mundo desde o início do século XIX, o poder não
é nenhuma novidade. Mas o é para a classe trabalhadora, que experimentou o
sabor da vitória por algumas semanas na Comuna de Paris em 1871; por quase uma
década o mesmo sucedeu-se na União Soviética e por alguns outros lugares, como
na Bulgária, na Espanha e na Síria, experiências operárias e camponesas
ocorreram rapidamente. Na China e na Coreia, coalizações de frente popular logo
mostraram a sua face bonapartista e trocaram o estado operário burocratizado
por ditaduras aristocráticas, em uma versão caricatural do stalinismo na URSS.
Para o
proletariado, então, o poder é uma novidade. São casos isolados em muitos anos
de história do capitalismo; isolados, mas nunca pequenos ou apequenados pelo
peso de sua experiência histórica. É necessário ser redundante de que com Lula
isto não mudou? Sim, pois acima de tudo o petismo nas bases e no topo de sua
pirâmide não só está mais histérico e passivo, também está menos exigente.
Assim como também estão seus segmentos diferenciados, como o PCO e o PSTU.
Fala-se, somente em um lunatismo digno de Posadas, em um governo dos
trabalhadores, onde Lula iria dirigir uma revolução; ou, de maneira muito mais
comedida, de que elegê-lo pela terceira vez é uma forma de barrar o fascismo. O
que nos leva a mais um questionamento.
Qual avanço
no movimento real trará um governo Lula? O seu eleitor mais comedido tende a
dizer que a “situação atípica em que nos encontramos” o levará a votar no PT, ou
mesmo que “a saúde mental dos brasileiros não suporta mais um governo Bolsonaro”.
Essas argumentações evidentemente, não podem ser levadas a sério. Geralmente
não partem de militantes mais criteriosos que estão no movimento e possuem uma
visão mais ampla do movimento e da consciência das massas.
Lula já se
mostrou, ao menos sob a superfície das poucas propostas que surgiram nas
eleições de 2022, contra o aborto e um defensor dos evangélicos. Cada voto
conta, evidentemente. Aqui ocorre um confronto entre a necessidade do voto e a
necessidade de despertar a consciência adormecida na classe trabalhadora. Os
marxistas, através das eleições, não almejam o poder, mesmo que eventualmente a
ganhem. Os revolucionários, que propõem a queda do estado burguês e toda a sua
putrefação nacional e internacional, utilizam do pleito eleitoral para fazer
propaganda revolucionária. E não, pela milésima vez, para rebaixar o seu
programa para beijar as mãos de lideranças religiosas reacionárias e
retrógradas. Pensemos em Tikhon ou Rasputin, o segundo mais famoso, ambos
russos. São figuras que viveram sob a época de Lenin e Trotsky, durante o
processo revolucionário russo (os 12 anos que ocorrem entre 1905 e 1917). Em
que momento os bolcheviques passaram a suavizar a crítica para com estes
charlatões do povo por alianças táticas? Não arrastavam estes, durante a maior
parte de sua vida, mais massas que os bolcheviques? Isto foi motivo para
rebaixar-se, rebaixar-se e rebaixar-se? Evidentemente o questionamento é
redundante e provocador.
Pensemos na
oportunidade que Bolsonaro deu a Lula para explicar as contradições do que
ocorrem na Nicarágua nos debates televisivos. O mais pífio social-democrata
veria nesta bola picando, uma chance de fazer um belo gol de placa. Lula se
limitou a dizer que não debate sobre a Nicarágua, mas sobre o Brasil. Explicar,
tirar as dúvidas, ser um porta-voz dos acontecimentos histórica para a classe
trabalhadora que (ainda e infelizmente) assiste-o. Não, novamente os votos
importam mais. Explicar os horrores da ditadura de Somoza, as contradições do
sandinismo... nada, nada, uma absoluta miséria.
Quando
Bolsonaro chama Daniel Ortega da já completamente falida FSLN (Frente
Sandinista de Libertação Nacional) de ditador, não está equivocado. A sua
crítica, no entanto, oriunda de uma moral religiosa contraditória (já que é um
apoiador de ditaduras militares confesso), nada tem a ver com a análise
marxista da história. Ortega hoje se utiliza do poder do estado burguês,
comandado por ele mesmo, para atacar a classe trabalhadora nicaraguense que se
defende com paus, pedras e rojões das forças de repressão estatais. O motivo?
Que curioso, a reforma previdenciária na Nicarágua. Deste ponto, entretanto,
Bolsonaro não comenta, pois neste sentido, tanto Lula quanto ele estariam ao
lado de Daniel Ortega.
Ortega se
coloca ao lado do desemprego sobre os mais pobres na defesa de "defender a
Nicarágua de um golpe de estado", como um bom bonapartista. A Nicarágua,
no entanto, nunca chegou a se tornar um estado operário burocratizado, como
foram Alemanha Oriental, Hungria ou União Soviética. Sequer chegou a este ponto
da história.
A Revolução
Sandinista vitoriosa na Nicarágua em 1979 está muito ligada a Revolução
Mexicana, ocorrida cerca de meio século antes, pois buscou em guerrilheiros
camponeses contra a influência do capital nas regiões rurais a sua força. Ao
derrubar a ditadura baseada no exército da família Somoza na capital Manágua,
em julho de 1979, caiu sobre a Frente Sandinista a questão de que tipo de
gestão fariam sobre o estado agora inócuo. Após a eleição de Ortega, em 1985,
os sandinistas passaram a dirigir o país com grupos bastante duvidosos, e até
receberam o belíssimo conselho de Fidel Castro “para não fazer da Nicarágua uma
nova Cuba”, isto é, dividir o poder com a burguesia nicaraguense. O resultado
disto foi a velha história que já conhecemos: acordos com o FMI, aproximação
com figuras reacionárias da Igreja Católica, Bancos com lucros extras e todos
os demais ingredientes que resultam num bolo mofado com rechaço massivo da
população pelo “comunismo”.
Se quisermos
que uma revolução um dia ocorra neste país, precisamos deixar o medo de perder
votos. Pensemos em 2018, onde Haddad perdeu junto ao PT uma eleição
presidencial, a que custo? Com um programa tão rebaixado quanto o de agora.
Quais lições a classe trabalhadora aprendeu desta experiência? Qual evolução
ocorreu em suas consciências através desta candidatura? Na melhor das
hipóteses, saiu mais emburrecida, com os olhos mais vendados para a realidade.
Entre perder e perder atirando, o Partido dos Trabalhadores sempre prefere
perder e como Haddad se manifestou em 2018, desejou ao governo que antes das
eleições chamava de fascista, e depois das eleições chama de genocida, um
cativante e democrático “boa sorte”. Os milhões de mortos que o PT utiliza em
sua propaganda para esculhambar Bolsonaro não tiveram essa mesma “boa sorte”.
Pensemos
agora no medo de Bolsonaro. O candidato do PL não possui nenhum medo de expor
que defende o massacre indígena, o avanço do latifúndio, a criminalização da
esquerda (que como nós, o candidato não encontra e por isto precisa nomear a
sua própria sombra de “comunista”), o Evangelho e tantas outras ilusões
históricas e programas pertencentes a burguesia contra-revolucionária. Assim
como Lula, o seu medo também é o de perder votos, quando se apresenta em frente
às câmeras como um pedófilo ou quando abandona a própria sorte as maluquices de
Roberto Jefferson (PTB), por exemplo. O que demonstramos aqui é que Bolsonaro
não tem medo de chutar à porta e mostrar ao que veio, isso faz com que conquiste
setores importantes da sociedade. Lula, pelo oposto, possui um medo terrível de
mostrar o que setores do proletariado e da pequena-burguesia do funcionalismo
público ACHAM que ele é. Isto é, um “santo popular”, um “combatedor do povo”,
um “pai dos pobres” ou nos iludidos mais conscientes, um “mal menor”.
Antes da
primeira chegada de Lula ao executivo estatal burguês, como estava a classe
trabalhadora? Confiante na eleição de um “dos seus”: ex-operário, aparentemente
humilde e que sabia na pele das humilhações diárias que os pobres sofrem. Como
está hoje? Endividada, com quase 70 milhões de brasileiros no SERASA;
pulverizada e com um salário-mínimo que não compra nada e no melhor dos casos,
com medo que o “comunismo” lhes tirem o pouco que possuem. Entendido isto, é
simplesmente ridículo o papel que organizações internacionais e com uma
campanha no primeiro turno que reflete sobre a necessidade de uma “revolução
socialista”, como o PSTU, chamem um voto crítico em Lula. Este voto crítico em
2018 foi silencioso e o partido nacionalmente não participou dos atos pró-Haddad;
em 2022, foi possível ver militantes do partido com um sorriso amarelo nas
marchas com Lula. A máxima bíblica serve para o PSTU deformada: “Do PT viestes,
ao PT voltarás”.
O argumento
utilizado aos ultra-sectários (como os que escrevem este texto são acusados)
por psolistas e pcdobistas raivosos por cargos, é de que o voto nulo é um apoio
ao bolsonarismo. Aonde estavam, no entanto, quando o PT se colocou contra a
derrubada de Bolsonaro entre 2020 e 2021? Quando os sindicatos dirigidos pela
CUT e pela CTB se atiraram no isolamento social enquanto os trabalhadores
pegavam ônibus lotados? Quando os principais quadros do PT defendiam
abertamente em suas redes sociais o fim do mandato até 2022 de Bolsonaro para
deixá-lo sangrar na presidência? – que combate é este que é retórico e só
acontece de eleição em eleição? Não esqueceremos, portanto, que Bolsonaro não
leva nas costas as inúmeras mortes ocorridas no Brasil pela Covid-19.
Aonde
estavam, pressionemos na ferida, os militantes quando Lula surpreendeu a todos
ao pedir pelo “Fica Temer”, em agosto de 2017? Aonde estão os militantes petistas que
chamavam Bolsonaro de fujão por não ir aos debates, mas agora se silenciam com
a ausência de Lula nos mesmos?
Parece
estúpido dizer que depois de tantos desastres, a culpa e o remorso precisem
cair sobre os isolados grupos que defendem o voto nulo. Mas nossos queridos
burocratas e suas bases corrompidas não estão livres da “sublime estupidez do
mundo de acordo com os seus próprios atos que culpam o sol a lua e as
estrelas”, como Shakespeare em Rei Lear.
Entendido tudo isto, faz cair por terra a ideia de que Bolsonaro seja um "fascista", que a sua intenção seja criar um fascismo ao estilo dos dois exemplos históricos citados anteriormente. Ou, pelo contrário, teríamos que dizer que o Partido dos Trabalhadores colaborou com a ascensão - o que certamente não seria nada surpreende, se esta fosse a conjuntura. A questão é que algo muito pior pode surgir do bolsonarismo, se continuarmos errado.. e estamos.
MRT e o
púrpura amarelado:
O Movimento
Revolucionário dos Trabalhadores, um agrupamento majoritariamente de estudantes
que pertencem a um setor da pequena-burguesia universitária, tomou a posição
mais oportunista de todas: a de não abrir a sua opinião. Como pode uma
organização simplesmente não orientar objetivamente a sua base e os seus
militantes a ter uma política transparente diante dos [poucos] proletários que
os conhecem?
O Esquerda
Diário, plataforma online do MRT, já fez anteriormente o que vem fazendo agora
(por exemplo, no segundo turno em Porto Alegre entre Manuela e Sebastião Melo):
não chama voto em ninguém, diz que vai estar ao lado dos trabalhadores pela
mobilização popular, mas começa a publicar artigos contra a “figura de direita”.
Neste caso, publica todos os dias os novos perigos que seriam um segundo
governo de Bolsonaro, pois que chamem o voto em Lula de uma vez!
Esta política, oportunista até o tutano, causa o efeito contrário que
deseja-se: ao invés de conseguir os corações e mentes da base lulista,
conseguem o seu ódio. Isso tudo porque esta mesma base foi orientada a se encontrar
diante de uma Nova Cruzada, uma defesa sacristã contra a ausência de
democracia, a ditadura etc.
O MRT, na
realidade, faz parte daquele setor que não quis ir longe o suficiente em
posições eleitorais, como TS e POR, por exemplo. Quer dizer, sabe criticar o
lulismo quando se sente confortável, mas jamais chamaria um voto nulo na mesma
guerra sacristã citada acima, porque não possui a coragem necessária para “se
queimar” diante das bases reformistas que sonha ter um dia para o seu projeto
centrista como a FIT, na Argentina.
PSTU e a escola clássica do centrismo:
Por falar em FIT, é o PSTU quem encarnou o programa de Del Caño e Bregman com o
seu bastante suspeito Polo Revolucionário. Há dois textos bastante
interessantes sobre a situação, em: https://transicao.org/conjuntura/balanco-do-1o-turno-e-dos-votos-da-esquerda-socialista/,
e em: https://grupodetrabalhadoresrevolucionarios.wordpress.com/2022/09/30/nao-o-capitalismo-nao-vai-melhorar-depois-das-eleicoes/,
para o leitor que quiser se aprofundar sobre a questão.
Em síntese,
a posição de chamar voto no PT para evitar o pior ou para as massas fazer uma
experiência (como em 2002 e 2018) não surpreende ninguém, o PSTU não deu
durante os últimos 10 anos um giro à esquerda, nem dará. É um partido que
morrerá apesar das boas contribuições teóricas que trouxe aqui e ali com a
publicação de alguns bons livros. O
melhor que pode fazer, no entanto, é sumir do mapa sem destruir a pouca e
aguerrida militância que lhes resta na ativa.
Lançou
campanhas, mas não fez campanha. Os leitores mais antigos lembrarão das
campanhas bastantes ativas deste partido há alguns anos atrás, que nada tem a
ver com a apequenada e desencorajada chamada por “um governo dos trabalhadores”
com duas ou três bandeiras que fez de forma esporádica pelo país.
POR e uma posição coerente:
O POR chamou
voto nulo desde o primeiro turno, e apesar de sua capitulação ao governo russo
no conflito ucraniano, ao “golpe de 2016” e a estranha conceitualização de “ditadura
civil de Temer em 2017”, demonstra que não está tão perdido quanto o PSTU nas
eleições burguesas.
É talvez a única
organização consistente que entendeu o conteúdo eleitoral atrás do “Fora
Bolsonaro”, que não serviu para barrar o “remédio amargo” da reforma
previdenciária e trabalhista, mas para levar Lula novamente ao caminho do
poder. A tentativa do PSTU de radicalizar este conteúdo, acrescentando ao final
“- E Mourão!”, soa apenas como um petismo de esquerda.
A Nova Democracia e a visão do campo:
Diferentemente
de Sofia Manzano (PCB) que enxerga tudo em Lula, até mesmo um comunista que irá
reduzir a jornada de trabalho semanal, os maoístas da Nova Democracia possuem
uma visão de onde a luta de classes está mais acirrada: o campo.
Horácio
Martins de Carvalho, acadêmico lulista, culpou em seus estudos, a herança do
governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) pelo pífio resultado dos dois
mandatos de Lula no campo. Pelo contrário, o governo burguês de FHC parece ter
tido mais sucesso neste setor do que o próprio Lula, já que o 2º mandato de
Lula e o 1º (e o 2º) mandato de Dilma foram inferiores ao número de assentados
do que o próprio PSDBista.
O latifúndio
brasileiro certamente é um dos mais poderosos do mundo, nele reside uma força
poderosa da burguesia nacional, pois seu poder econômico exerce grande
influência sobre o Estado. O mais “distante” que o governo Lula/Dilma foram na
questão agrária, foram as políticas públicas PPA, Programa de Aquisição de
Alimentos e o PNAE, Programa Nacional de Alimentação Escolar. Ambos, ao
contrário de elevar a consciência do campo, gerou a estagnação das lutas
agrárias – mas reforçamos, não a sua invasão pelos latifundiários, garimpeiros
etc.
O voto nulo
da Nova Democracia expressa uma análise coerente dentro de um setor que ainda
está sob o julgo do falecido stalinismo, mas que se posiciona de forma correta
diante das eleições burguesas.
O voto útil
do proletariado:
A militância
mais aguerrida de Bolsonaro arranca os cabelos com o voto nulo, pois isto significa,
para eles, dar votos em Lula; a militância petista, por sua vez, também perde
as estribeiras quando ouve falar em voto nulo, pois isto significa, para eles,
votar em Bolsonaro. É um desespero, não pelo futuro do Brasil ou pela sua população,
como dizem, mas porque ambos os “lados” sabem que a figura derrotada se verá
diante de uma grande humilhação. A derrota de Bolsonaro será histórica para um país
que desde 1994 reelege todos os seus presidentes, a derrota de Lula significará
a sua última em eleições, muito possivelmente, e a crise de um PT que não pensou
em renovar os seus quadros.
Em síntese,
tão raivosos quanto os bolsonaristas convictos ao ouvir “luta de classes” ou “burguesia
x proletariado” estão os petistas, que tentam colocar as eleições de 2022, mais
uma vez, acima das classes e dos conflitos sociais que não façam mais votos.
No entanto,
nada disso significa mudanças ou melhoras. Por isto reforçamos que a única
posição viável neste segundo turno presidenciável é VOTAR NULO! Votar em Lula
não barra as insanidades de Bolsonaro, não combate a extrema-direita e principalmente:
não constrói as lutas de amanhã, as rebaixa, as vende por ministérios.
Longe da ilusão de que um número majoritário de votos nulos ou qualquer coisa do tipo - questão ausente nesta conjuntura, por sinal - vá levar alguma crise ao TSE ou as duas candidaturas, a proposta é de reorganizar os pouco setores que ainda não foram iludidos por algum dos "menos piores". Que percebem que nada possuem a ganhar com a divisão política da burguesia que adentrou a família operária na última década.
Reorganizar, organizar e vencer!
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